terça-feira, março 18, 2008
60 ANOS DO HOT CLUBE
Hot Clube de Portugal comemora 60 anos
Sócios querem criar Casa do Jazz
O Hot Clube de Portugal cumpre AMANHÃ 60 anos de vida, passados numa cave lisboeta, com uns escassos 48 metros quadrados apinhados de música e de histórias, que fazem a História do Jazz em Portugal
IN AGENCIA LUSA
Apesar de a cave na Praça da Alegria ser o local mais conhecido, as primeiras instalações do Hot Clube de Portugal foram em casa de Luís Villas-Boas, o fundador e sócio número um deste clube nocturno.
"O Hot Clube só teve existência legal em 1950, quando o governador civil aprovou os estatutos. De 1948 a 1950 andámos a discutir os estatutos e a sede era em casa do Villas-Boas", recordou Bernardo Moreira, antigo contrabaixista e presidente do clube desde 1992.
Villas-Boas lançou a ideia de criar um clube de jazz durante um programa radiofónico que tinha na Emissora Nacional.
Depois de ter angariado apoios, assinou a primeira ficha de sócio a 19 de Março de 1948, onde se pode ver o logotipo que se mantém até hoje - uma luva preta sobre as teclas de um piano.
Se hoje o clube tem perto de 400 sócios, quando abriu tinha mais de 700, mas na altura a maioria inscreveu-se por solidariedade com Villas-Boas, conta Bernardo Moreira.
"A grande maioria destes 700 sócios pagou a primeira vez, mas nunca entrou no clube e se calhar nunca ouviu jazz. Eram boxeurs do Parque Mayer, coristas do teatro de revista e fizeram um acto de solidariedade com o Villas-Boas", explicou o antigo contrabaixista do Hot.
Entre os sócios fundadores figuram nomes da cena cultural como o fotógrafo Gérard Castello-Lopes, o músico Artur Carneiro (pai do antigo ministro Roberto Carneiro) e Augusto Mayer, aos quais se juntaram sócios ocasionais, como Catherine Deneuve, Alexandre ONeill e Raul Solnado.
As quotas mensais custavam dez escudos, o que, pelas contas de Bernardo Moreira, equivalia hoje a 50 euros.
Nestes 60 anos pela cave do Hot Clube passaram centenas de artistas internacionais, como Count Basie, Dexter Gordon e Sarah Vaughn, e lá estudaram músicos como António Pinho Vargas, Mário Laginha, Carlos Bica e Tomás Pimentel.
Os musicos das bandas da armada dos EUA aportados em Alcantara nos anos 50 fazem parte da historia e evolução dos musicos do Hot clube.
"Eles saiam dos Navios Americanos à noite e vinham para cá tocar a noite toda connosco, só saiam daqui às 6 da manhã, ás vezes atrasavam a saia dos navios porque até comandantes cá estiveram ."
"Também os musicos da orquestra de Count Basie cá estiveram a tocar a noite toda...bem bebidos, após o concerto em Lisboa".
O Count Basie ficou no hotel a descansar, mas a banda veio quase toda para a nossa cave.
Sindicalista e apaixonado por jazz, Villas-Boas decidiu um dia criar um clube nocturno para divulgar o que era visto na altura por alguns intelectuais como "música de selvagens".
Sem ele, diz Bernardo Moreira, não havia história do jazz em Portugal e o espólio que deixou ao Hot depois de morrer é um espelho dessa dedicação à divulgação do jazz.
Depositado numa sala no edifício onde funciona a escola do Hot Clube, o espólio tem mais de quatro mil discos, três centenas de livros, quase 800 cartazes e 900 guiões de programas radiofónicos, aos quais se juntam cassetes, bobinas de gravações e preciosidades como uma grafonola para discos de 78 rotações.
Bilhetes de avião e de concertos, milhares de fotografias e um caderno com pautas de temas de jazz manuscritas por Villas-Boas são outros objectos do espólio e poderão ser vistos numa futura Casa do Jazz, que a direcção do Hot quer abrir no edifício onde está localizado o clube.
"Nós queríamos que essa Casa do Jazz tivesse uma componente de investigação, com aulas e workshops, com um núcleo museológico integrado aberto à investigação, porque tudo o que está aqui está a ser inventariado, mas não está estudado", explicou Bernardo Moreira.
Aqueles pequenos 48 metros quadrados da cave do Hot fazem parte do futuro o primeiro e mais antigo clube de jazz em Portugal. Para Bernardo Moreira, papel do Hot Clube "será aquilo que for a evolução do jazz
Nos 60 anos, Mário Laginha e a Big Band do Hot Clube de Portugal interpretarão composições que foram encomendadas ao primeiro pela Hessicher Rundfunk Big Band, pela Brussels Jazz Orchestra, pela Orquestra Jazz de Matosinhos e pela própria “big band” que na ocasião se apresenta.
A festa prolongar-se-á no “foyer” do mesmo espaço até às duas da madrugada, com intervenções de alunos da Escola de Jazz Luís Villas-Boas e com uma “jam session” final que se prevê vir a ser muito concorrida.
Outras acções estão previstas para comemorar este ano o aniversário do Hot, entre elas uma exposição dedicada a Villas-Boas e a edição de uma série de discos, “Live at the Hot Club” e até a criação de uma Editora.
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